Chovem protestos palavrasdramaturgos e profetas:a chuva dos manifestosfecunda a horta das letras.
Chovem bátegas de sílabaschovem doutrinas e tretaschovem ismos algarismosque numeram os poetas.
Chovem ciências ocultaschovem ciências concretase nascem alfaces cultaspara poemas-dietas.
Chovem tiros de espingardachovem pragas e lamentose cresce a couve lombardanos quintais do sentimento.
Chove granizo políticadum céu carranca cinzentoconstipa-se logo a críticaque se mete para dentro.
Chovem as poetisas símias da menina flor dos olhossurgem canteiros de zíniassalpicados de repolhos.
Chovem as mulheres a diascom os sonetos nas curvaslavadeiras de poesiaem barrela de águas turvas.
Chove uma chuva de pedrachovem astros em cardumehá uma erva que medracom este estrume de lume.
Medra a erva do talentomedra a baga do azedumenão há erva que não medrenas estufas do ciúme.
Chove uma chuva miúdaque é chuva de molhatolossai o poema taludae saem rimas nos bolos.
Para o poeta que chovapor dentro,em razão inversa,forçoso é ter guarda-chuvacontra a palavra perversaque foi um chão que deu uvae hoje só dá conversa.
José Carlos Ary dos Santos
sábado, 30 de outubro de 2010
O Guarda Chuva
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário