sexta-feira, 1 de outubro de 2010

ELOGIO BARROCO DA BICICLETA.




Redescubro, contigo, o pedalar eufórico
pelo caminho que a seu tempo se desdobra,
reolhando os beirais – eu que era um teórico
do ar livre – e revendo o passarame à obra.

Avivento, contigo, o coração, já lânguido
das quatro soníferas redondas almofadas
sobre as quais me etangui e bocejei, num trânsito
de corpos em corrida, mas de almas paradas.

Ó ágil e frágil bicicleta andarilha,
ó tubular engonço, ó vaca e andorinha,
ó menina travessa da escola fugida,
ó possuída brincadeira, ó querida filha,

dá-me as asas – trrim! trrim! – pra que eu possa traçar
no quotidiano asfalto um oito exemplar!

Alexandre O'Neill

Do seu livro A saca de orelhas (1979)
Fotografia:Diário de Lisboa (Braço de Prata)

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