domingo, 31 de outubro de 2010
sábado, 30 de outubro de 2010
O Guarda Chuva
Chovem protestos palavrasdramaturgos e profetas:a chuva dos manifestosfecunda a horta das letras.
Chovem bátegas de sílabaschovem doutrinas e tretaschovem ismos algarismosque numeram os poetas.
Chovem ciências ocultaschovem ciências concretase nascem alfaces cultaspara poemas-dietas.
Chovem tiros de espingardachovem pragas e lamentose cresce a couve lombardanos quintais do sentimento.
Chove granizo políticadum céu carranca cinzentoconstipa-se logo a críticaque se mete para dentro.
Chovem as poetisas símias da menina flor dos olhossurgem canteiros de zíniassalpicados de repolhos.
Chovem as mulheres a diascom os sonetos nas curvaslavadeiras de poesiaem barrela de águas turvas.
Chove uma chuva de pedrachovem astros em cardumehá uma erva que medracom este estrume de lume.
Medra a erva do talentomedra a baga do azedumenão há erva que não medrenas estufas do ciúme.
Chove uma chuva miúdaque é chuva de molhatolossai o poema taludae saem rimas nos bolos.
Para o poeta que chovapor dentro,em razão inversa,forçoso é ter guarda-chuvacontra a palavra perversaque foi um chão que deu uvae hoje só dá conversa.
José Carlos Ary dos Santos
Tiago Bettencourt & Mantha. Pequeno concerto. Antiga Fábrica braço de Prata.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
A fuga(do pensamento).
O corpo. sentia-o cansado mas nada que não conseguisse suportar. tentava esquecê-lo. apostava na cabeça. essa sim o seu bem mais precioso. precisava dela para falar, para ouvir, para ver, mas essencialmente para pensar. que seria de sim sem o seu pensamento. pensava nisso e pensava-se nada. sem se pensar não se pode viver. tinha a certeza disso. para onde ia o pensamento. que caminhos tomava e lhe mostrava. nem sempre os melhores. nem sempre os mais alegres. por vezes disparatados, obcecados. existiam para dar cor à vida que passava. em frente aos olhos. os olhos. tinha-os cansados. tão cansados que as órbitas lhe pareciam enormes. sentia-as grandes e vazias. ocas. se visse mais iria ouvir o eco do espaço das órbitas. o cansaço que lhe mede os dias. os dias que lhe tragam os pensamentos. os pensamentos que lhe dizem o cansaço. o cansaço que lhe pede o descanso e a fuga. a fuga impossível que retorna o pensamento. está a chegar ao limite. deita-se. no chão. fecha os olhos. o eco do pensamento continua a atordoar-lhe o cérebro. esquece. não é ninguém. matou o corpo. apenas o pensamento permanece. solta-o pelo ar. através da pálpebras cerradas vê-o subir. para longe de si. para outro corpo. para outro alguém que possa fazer dele a realidade e não a fuga.
Texto: Vera Lima Vekiki Projects
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Correio
Espero que não demorem a mandar Novidades na volta do correio A ribeira corre bem ou vai secar? Como estão as oliveiras de "candeio"?
Rio Grande-Postal dos Correios
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Retratos de Lisboa IX
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Retratos de Lisboa VIII
domingo, 24 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Retratos de Lisboa VII
Retratos de Lisboa VI
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Retratos de Lisboa IV
Retratos de Lisboa III
Retratos de Lisboa II
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
“sou um homem
um poeta
uma máquina de passar vidro colorido
um copo uma pedra
uma pedra configurada
um avião que sobe levando-te nos seus braços
que atravessam agora o último glaciar da terra
(…)“
Mário Cesariny
domingo, 17 de outubro de 2010
Algum dia um novo Papa
anunciará altivo
que Deus é raiz quadrada
de um quantum negativo
e o Deus que tanto procuro
em que atingido me afundo
é aquele ser-não-ser
do que acontece no mundo
da matéria mais que densa
é que é divertido ser
ali se nada acontece
tudo pode acontecer
Prof. Agostinho da Silva
sábado, 16 de outubro de 2010
Intervenção.
Eu fui. Mas o que fui já me não lembra:
Mil camadas de pó disfarçam, véus,
Estes quarenta rostos desiguais.
Tão marcados de tempo e macaréus.
Eu sou. Mas o que sou tão pouco é:
Rã fugida do charco, que saltou,
E no salto que deu, quanto podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.
Falta ver, se é que falta, o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio, mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.
José Saramago
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Os troncos das árvores
Os troncos das árvores doem-me como se fossem os meus ombrosDoem-me as ondas do mar como gargantas de cristalDói-me o luar como um pano branco que se rasga.Sophia de Mello Breyner Andresen
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Sophia de Mello Breyner Andresen
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
Fernando Pessoa.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Faz-se Luz
Faz-se Luz
Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca
Mário Cesariny, in "Pena Capital"
Há-de flutuar uma cidade.
Há-de flutuar uma cidade
há-de flutuar uma cidade no crepúscolo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade
Poema. Al Berto
Fotografia: Diário de Lisboa.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
domingo, 10 de outubro de 2010
Trailer PARE, ESCUTE, OLHE .Vencedor Doclisboa 2009.Absolutamente imperdível. Edição deste ano começa a 14 de Outubro.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Fundo do mar.
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Tempestade.
Da nuvem densa, que no espaço ondeia,
Rasga-se o negro bojo carregado,
E enquanto a luz do raio o sol roxeia,
Onde parece à terra estar colado,
Da chuva, que os sentidos nos enleia,
O forte peso em turbilhão mudado,
Das ruínas completa o grande estrago,
Parecendo mudar a terra em lago.
Rasga-se o negro bojo carregado,
E enquanto a luz do raio o sol roxeia,
Onde parece à terra estar colado,
Da chuva, que os sentidos nos enleia,
O forte peso em turbilhão mudado,
Das ruínas completa o grande estrago,
Parecendo mudar a terra em lago.
Poema: Gonçalves Dias
Fotografia: Diário de Lisboa
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