sábado, 26 de novembro de 2011

A ferida...

A ferida por baixo da cicatriz
-quem cura?

Vasco gato

E por vezes....

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos.E por vezes

David Mourão Ferreira

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Portugal.

Portugal.
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir
como se tivesse oitocentos.

Jorge Sousa Braga

quinta-feira, 30 de junho de 2011

o poema...

o poema é quando eu podia dormir até tarde nas férias
do verão e o sol entrava pela janela.

José Luís Peixoto.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sentas-te...

Sentas-te num banco de jardim e não esperas.
Sento-me a teu lado, Lisboa.
Podíamos perguntar-nos onde está a noite quando é dia mas não o fazemos.
Sabemos que a noite está sentada mais adiante, noutro banco de jardim.
Conversamos com ela em pensamento.
José Luís Peixoto










Linhas paralelas

Tento não me perder e para não me perder tracei duas linhas paralelas no chão que piso.
Iludida pela imagem das duas linhas vou caminhando a direito.
Só posso caminhar pelos caminhos que as duas me indicam, pouco importando qual o destino a que me levam.
Faço-o de olhos fechados. Outras vezes, de olhos semicerrados.
E as linhas sempre lá. Do lado direito, do lado esquerdo. Paralelas.
Uma de fronte da outra.
Namoram-se? Veêm-se? Que sei eu da vida destas duas linhas que me guiam? Tracei-as eu ou foi alguém que as traçou para mim?
E a vida vai passando.
Sem que eu a tente prever, sem que tente adivinhar para onde vou, onde pararei este meu caminho conduzido por mãos invisíveis que me vão levando, de ponto em ponto na vida.
Vera Lima

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Retrato.

O teu corpo
As minhas mãos no teu corpo
O meu cheiro
A tua roupa inundada do meu cheiro
O teu sabor
Eu esquecida de te saborear
O meu sorriso
Tu esquecido de me fazer sorrir
Eu&Tu
Noutro tempo talvez
 Vera Lima

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Era uma vez um País...


Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra...

Ary dos Santos. 
Última fotografia sobre desenho da minha filha Carolina...
 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Urbanização.

Senhores dos planos de urbanização
responsáveis pela paisagem
cuidado com o poeta na cidade.
Não há nem pode crescer na rua
árvore mais inútil que a palavra do poeta.

Ruy Belo

terça-feira, 5 de abril de 2011

Tenho uma coisa...


Tenho uma coisa que eu te posso dar
que é o vento a vir atrás do verde
e a dizer azul no teu cabelo.
Pedro Tamen

sexta-feira, 1 de abril de 2011



e na própria melancolia
sê feliz.

José Manuel Mendes
Tábua




quarta-feira, 30 de março de 2011

48 (Portugal, 2009). Susana de Sousa Dias.



Assisti ontem à ante-estreia deste fabuloso documentário de Susana Sousa Dias na Cinemateca Portuguesa.
Apesar de realizado em 2009 apenas este mês chegará ao circuito comercial . Completamente ignorado em Portugal, apenas com passagem no Doc Lisboa, tem ganho prémios por esse mundo fora e vais ser presença na próxima edição da PhotoEspanha, um dos maiores eventos mundiais de fotografia.
Com uma imagem e um som absolutamente magníficos e impressionantes, transporta-nos, com os seus emocionantes testemunhos, para a realidade absolutamente aterradora que foram as prisões políticas , nos tempos do fascismo, em Portugal.
Imperdivel, por todas as razões.Uma obra-prima.

segunda-feira, 21 de março de 2011

És tu a Primavera...

És tu a Primavera que eu esperava,
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante.

Sophia de Mello Breyner Andersen

Os Pássaros nascem na ponta das Árvores.



As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
Deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
Quando o Outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
Mas deixo essa forma de dizer ao romancista
É complicada e não se da bem na poesia
Não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração

Ruy Belo

domingo, 20 de março de 2011

Urgência (Dia Mundial da Poesia).

Para bem da cidade, do País, da cultura é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência.

Daniel Filipe.
A invenção do Amor.

sábado, 19 de março de 2011

Desta janela...

Desta janela de ar e ansiedade
podemos ver compor-se a primavera
lentamente por cima das casas.

Gastão Cruz

quinta-feira, 17 de março de 2011

Não esqueças...



Não esqueças sobretudo de olhar devagar

Vasco Rato
(Regras do esquecimento)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Banco de Jardim

No banco do jardim espaço o bastante para adormecer o coração.

Rui Lage
Memoria descritiva

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A noite suavemente descia.


A noite 
Suavemente descia; 
E eu nos teus braços deitádo 
Até sonhei que morria...

António Botto

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Tabacaria.


      Não sou nada.
      Nunca serei nada.
      Não posso querer ser nada.
      À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo...
      Álvaro de Campos
      Texto completo aqui.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Amália Rodrigues - Madrugada de Alfama (1961)

Madrugada de Alfama.


Mora num beco de Alfama
e chamam-lhe a madrugada,
mas ela, de tão estouvada
nem sabe como se chama.

Mora numa água-furtada
que é a mais alta de Alfama
e que o sol primeiro inflama
quando acorda à madrugada.
Mora numa água-furtada
que é a mais alta de Alfama.

Nem mesmo na Madragoa
ninguém compete com ela,
que do alto da janela
tão cedo beija Lisboa.

E a sua colcha amarela
faz inveja à Madragoa:
Madragoa não perdoa
que madruguem mais do que ela.
E a sua colcha amarela
faz inveja à Madragoa.

Mora num beco de Alfama
e chamam-lhe a madrugada;
são mastros de luz doirada
os ferros da sua cama.

E a sua colcha amarela
a brilhar sobre Lisboa,
é como a estatua de proa
que anuncia a caravela,
a sua colcha amarela
a brilhar sobre Lisboa.

David Mourão Ferreirra