Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão de átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão
Este blogue já merecia este poema. Intemporal e Lindíssimo.
ResponderEliminar"(...)como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso(...)"
Uma pedra frente ao mar é a melhor pedra filosofal que podemos ter. Digo eu. Aqui nos sentamos, aqui descansamos, contemplamos e sonhamos e lá vamos, como sabemos, comandando a nossa vida.
Carla
também gosto muito deste poema, acho que sempre me acompanhou,.
ResponderEliminarE as pedras do mar são realmente muito bonitasSe houver uma estará com certeza, numa praia algures, tavez aqui , no Meco.
Muito obrigado Carla, uma vez mais, e que o sonho comande muitas vidas...