sábado, 20 de outubro de 2012

Talvez possas...

Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da razão
e passagem para o que não se vê.
Manuel António Pina.
18-11-1943
19-10-2012

domingo, 13 de maio de 2012

Boa noite...

Boa noite. Eu vou com as aves.


Eugénio de Andrade.
                                                 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver



Sophia de Mello Breyner Andresen




...

uma prancha sem porta sem escada
um grifo nas linhas da mão
uma Ibéria muito desgraçada
um rossio de solidão

Mario Cesaryny

domingo, 25 de março de 2012

Ficar à escuta...


Ficar
à escuta.


À escuta
do silêncio

Adília Lopes.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Namoro


Namoro
Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com a letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas.
sua pele macia - era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
tão rijo e tão doce - como o maboque...
Seu seios laranjas - laranjas do Loge
seus dentes... - marfim...

Mandei-lhe uma carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o Maninjo tipografou:
"Por ti sofre o meu coração"
Num canto - SIM, noutro canto - NÃO

E ela o canto do NÃO dobrou.

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro...
E ela disse que não.

Levei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficamos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbado, sujo, e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
" - Não viu...(ai, não viu...?) Não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

E para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário

Tocaram uma rumba dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim!"
Olhei-a nos olhos - sorriu para mim
pedi-lhe um beijo - e ela disse que sim.
Viriato da Cruz

  

domingo, 15 de janeiro de 2012

a escrita...

a escrita é a minha primeira morada de silêncio.

Al Berto

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Meteu o punhal...

Meteu o punhal dentro do bolso e saiu para a noite
 deserta.Deserta e escura.Seu desejo assassino era 
somente apunhalar as trevas e riscá-las de luz.

Vasco Miranda

domingo, 8 de janeiro de 2012

Quando partires...

Quando partires
se partires
terei saudades
e quando ficares 
se ficares
terei saudades.

Adília Lopes