domingo, 13 de maio de 2012

Boa noite...

Boa noite. Eu vou com as aves.


Eugénio de Andrade.
                                                 

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver



Sophia de Mello Breyner Andresen




...

uma prancha sem porta sem escada
um grifo nas linhas da mão
uma Ibéria muito desgraçada
um rossio de solidão

Mario Cesaryny